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Cidade brasileira festeja aniversário na Suíça

O encontro também inaugurou uma imensa bandeira de 24m2 do município de Nova Friburgo que será usada nas comemorações até o bicentenário da cidade. swissinfo.ch

A “Suíça brasileira” da região serrana do Rio de Janeiro veio comemorar os 195 anos de sua fundação no cantão suíço que deu origem à seu nome. Autoridades do cantão de Friburgo e do município de Nova Friburgo puderam confraternizar e consolidar os laços de uma velha amizade.

O dia não estava muito para comemorações, a chuva resolveu participar da festa nesse 16 de maio, talvez para lembrar os últimos acontecimentos que estreitaram ainda mais as relações entre as duas regiões: o temporal que destruiu Nova Friburgo em 2011 e a onda de apoio à reconstrução e à prevenção vinda dos suíços.

Como prevenção e suíço costumam andar de mão dadas, um plano b para as comemorações já havia sido preparado pelos organizadores, a Associação Fribourg-Nova Friburgo, se caso a chuva tentasse estragar a festa.

Pois dessa vez, dois anos depois de tanta tristeza, os brasileiros quiseram trazer alegria para agradecer a ajuda recebida e mostrar a confiança em um futuro melhor para a cidade. A mensagem parece ter passado muito bem, graças ao sopro forte da Banda Sinfônica Campesina Friburguense que acompanha a delegação brasileira.

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Participação musical

Desde 1870, a presença da Campesina tem sido constante nos acontecimentos mais significativos da vida e história de Nova Friburgo e, mais recentemente, da amizade entre a cidade brasileira e suas coirmãs europeias, Fribourg, na Suíça, e Freiburg, na Alemanha.

Nesse contexto, essa banda sinfônica friburguense pode participar de grandes eventos na Suíça, como a comemoração dos 500 anos do ingresso do cantão de Friburgo na Confederação Helvética, em 1981, e a abertura da exposição nacional Expo.02, em 18 de maio de 2002.

Na noite do 14 de maio último, a banda lotou a moderníssima sala de espetáculos de Friburgo, o Théâtre Equilibre que, apesar de suas formas externas secas e frias, aplaudiu calorosamente a apresentação conjunta realizada com a banda sinfônica La Gérinia, de Marly, cidadezinha colada à Friburgo suíça.

O regente Marcus Almeida não esconde a alegria de estar à frente do grupo, que conta mais de cinquenta músicos. “Há mais de onze anos que dirijo nossa banda, que consegue entrosar gente de todas as idades e meios sociais”, disse à swissinfo.ch.

Para o atual presidente da Sociedade Musical Beneficente Campesina Friburguense, Carlos Magno da Silva, a preparação da viagem à Suíça exigiu muito trabalho de coordenação e logística, “sem contar o apoio financeiro que recebemos de nossos amigos”, disse. A Campesina conta, atualmente, com o patrocínio da Petrobras através do projeto “Reestruturando a Banda Sinfônica Campesina Friburguense” para a aquisição de novos instrumentos musicais e uniformes de concerto.

Em 11 de janeiro de 2011, Nova Friburgo foi uma das cidades da serra fluminense que mais sofreram com as chuvas de verão. A cidade foi devastada pelas cheias dos rios, deslizamentos das encostas, contabilizando oficialmente em todo o município mais de 800 vítimas fatais e mais de 300 pessoas desaparecidas em decorrência das enchentes e deslizamentos.

Na madrugada do dia seguinte, novo temporal causou inundações, deslizamentos de terra e desabamentos de casas, matando mais de 500 pessoas.

Origem de uma velha história

Reunidos em um salão de conferência na parte antiga da cidade por causa da chuva, as autoridades brasileiras e suíças puderam discursar sobre o passado que une as duas cidades e seus planos para o futuro. Discursos breves, intercalados aqui também por execuções da Campesina.

Raphaël Fessler, presidente da Associação Fribourg-Nova Friburgo, lembrou que a história da imigração suíça ao Brasil se confunde com a própria história de Nova Friburgo, quando no dia 16 de maio de 1818 o príncipe regente D. João VI criava a única cidade brasileira fundada por decreto imperial.

Com o intuito de promover uma colonização planejada, D. João VI baixou decreto autorizando o agente do cantão de Friburgo, Sébastien-Nicolas Gachet, a estabelecer uma colônia de cem famílias suíças na então Fazenda do Morro Queimado, onde o clima e as características naturais eram similares às de seu país de origem.

Entre 1819 e 1820 chegaram a Nova Friburgo 261 famílias de colonos suíços, número sensivelmente superior ao que havia sido combinado nos contratos. A mudança na quantidade de colonos foi consequência da fome e da miséria que assolavam o velho continente. Mais de dois mil suíços embarcaram em oito veleiros, em viagens que duraram entre 55 e 146 dias. 311 destes primeiros imigrantes acabaram morrendo no caminho.

A partir de 1977, com a realização do 1º Encontro Comunitário Suíço-Brasileiro, o intercâmbio entre o país de origem e os descendentes de imigrantes só fez crescer, gerando no Brasil a criação do Instituto Fribourg–Nova Friburgo, a partir de 1985, a Queijaria Escola, em 1987 e o centro cultural Casa Suíça, em 1996.

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Planos para o futuro

Para Fessler, a comemoração, este ano, do aniversário da fundação de Nova Friburgo na Suíça procura chamar a atenção para os próximos eventos que aproximarão os dois países nos próximos anos. Copa do Mundo, em 2014, Olimpíadas, em 2016, e uma prometida grande festa para comemorar os 200 anos da cidade em 2018, “já que o centenário passou despercebido em 1918 por causa da Primeira Guerra Mundial”, disse.

A presença econômica e cultural da Suíça em Nova Friburgo, representada pela Casa Suíça, deve promover um intercâmbio sócio-econômico entre os dois países nos próximos anos. Para a governadora do cantão de Friburgo, Anne-Claude Demierre, essa “embaixada” no Brasil pode servir de ponte entre os dois países, lembrando que “a Suíça nem sempre foi um país rico, o eldorado que muitos buscam atualmente”.

Para o conselheiro científico da prefeitura de Nova Friburgo, Marcio Folly, os suíços estariam “dormindo no ponto” com relação a todas as oportunidades criadas no arco do pré-sal. “Só a Petrobras está investindo 220 bilhões de dólares na região. Japoneses, alemães e americanos, entre outros, já estão lá, só faltam os suíços!”, se empolga.

A ideia seria atrair para Nova Friburgo empresas suíças interessadas no filão, “todos podem ganhar muito com isso, os investidores suíços e a cidade com impostos e a criação de empregos”, comentou Folly.

Promessa e dívida

Por sua vez, a vice-prefeita de Nova Friburgo, Grace Arruda, prometeu reconstruir a cidade e reganhar a confiança perdida nos últimos escândalos de corrupção envolvendo o ex-prefeito Demerval Barboza.

Muito emocionada, Grace agradeceu a ajuda dos suíços para a reconstrução da cidade: “seremos eternamente gratos pela criação do fundo de ajuda dos suíços”, afirmou.

A vice-prefeita, que também tem raízes suíças, enfatizou que o dinheiro angariado na Suíça depois do temporal de 2011 nunca caiu nas mãos do governo municipal e já foi usado para reconstruir uma creche e instituições que cuidam de deficientes e pessoas carentes.

A delegação brasileira permanece na Suíça até a segunda-feira 20 de maio. Até lá, a banda Campesina continua se apresentando em outras cidades do cantão de Friburgo de onde partirá para Freiburg, na Alemanha, para outras apresentações e o retorno ao Brasil.

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