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Maestro suíço é titular da Orquestra Sinfónica do Porto

O maestro suíço em pleno ensaio com a A Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música. Filipa Soares

O suíço Baldur Brönnimann é o maestro titular da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música (Portugal) durante este ano. Sucede ao alemão Christoph König. A nomeação é o culminar de uma relação de vários anos com a orquestra, em que dirigiu obras clássicas e contemporâneas e colaborou com artistas como Luca Francesconi, Jonathan Harvey e Håkan Hardenberger.

Brönnimann dirige orquestras em todo o mundo, o que o obriga a viajar entre 30 a 40 semanas por ano. Em 2016, entre outros projectos, vai trabalhar com a Basel Sinfonietta, em Basileia, a terra natal que deixou há 20 anos para ir estudar para Inglaterra.

swissinfo.ch assistiu a um dos ensaios do novo maestro titular na Casa da Música, no Porto. “Começámos agora e ainda nos estamos a conhecer. Estamos a começar a falar a mesma língua. Eu estou a tentar aprender um pouco de português, mas pouco a pouco”, diz Brönnimann. O facto de viver em Madrid há alguns anos, permite-lhe por agora falar “portunhol”.

Numa mistura das línguas ibéricas, em espanhol ou em inglês, o maestro vai dando instruções aos músicos. A Orquestra Sinfónica do Porto Casa da MúsicaLink externo é composta, de forma permanente, por 94 instrumentistas, na maioria estrangeiros. “O mais difícil para mim é que eles são provenientes de 20 nações diferentes. Há diversas escolas, imensas maneiras diferentes de tocar e até de pensar”, afirma o maestro, realçando: “O mais difícil é unir estas diferenças. É um desafio para mim e para eles”.

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Mas BaldurLink externo está muito acostumado ao multiculturalismo. Deixou a Suíça há 20 anos para ir estudar para Inglaterra. Agora vive em Madrid, mas viver é um verbo muito relativo quando se viaja no mínimo 30 semanas por ano. “Já dirigi orquestras em todo o mundo. É a melhor parte da minha profissão, que me tem permitido conhecer culturas muito diferentes. Agora, por vezes, o aspecto mais negativo é que nunca estou em casa”, lamenta.

“A música que fazemos é para toda a gente”

Um cidadão do mundo

Baldur Brönnimann frequentou a Academia de Música de Basileia, tendo depois emigrado para Inglaterra para estudar no Royal Northern College of Music: “Quando se quer fazer música, a Suíça é bastante pequena”.
Desde então o maestro já dirigiu orquestras em todo o mundo, como a Filarmónica de Oslo, a Filarmónica Real de Estocolmo, a Britten Sinfonia, a London Sinfonietta e a Filarmónica de Seul.
Este ano, já dirigiu a ópera “Alice in the Wonderland”, no Barbican, em Londres, e em Maio, tem um projecto “fantástico” com a Sinfónica do Oeste Australiano. Estes são apenas alguns dos projectos em que Brönnimann está envolvido em 2015.
Para o próximo ano já tem previsto entre outros trabalhos, uma colaboração com a Basel Sinfonietta, com quem vai tocar no Festival de Lucerna.

Este cidadão do mundo comporta-se, no Porto, como qualquer português. Acompanhou a entrevista com um café e um pastel de nata. E dias antes, como qualquer português, tinha ido ao futebol, ver a sua equipa, o Basileia, ser derrotado pelo FC Porto, no Estádio do Dragão. Onde quer que vá em trabalho, o maestro tenta ver um jogo de futebol, que “é cultura”, e com o qual estabelece vários paralelismos ao longo da nossa conversa.

“Um maestro titular tende a trabalhar a maneira básica de tocar, como o treinador de uma equipa de futebol trabalha a estratégia, a maneira como a equipa joga”, compara Baldur, que, neste momento, “está focado em questões que são importantes para a Orquestra [Sinfónica do Porto Casa da Música] como o ensemble, o equilíbrio do conjunto”.

Com esta orquestra, o maestro pretende tocar ao longo de 2015 “um repertório bastante vasto”, que inclua música clássica, como Beethoven, Strauss e Tchaikovsky, ainda que com “uma abordagem diferente”, e contemporânea. O objectivo será sempre o mesmo: “A música que fazemos é para toda a gente. Sou contra preços altos em que apenas 0,5% da população pode vir”.  Esta é uma das razões que leva o maestro a admirar o trabalho desempenhado pela Casa da Música, que a um preço razoável oferece uma programação de qualidade: “É louvável que tenham conseguido continuar da forma que o fizeram, apesar da crise. Em muitos sítios não existe uma instituição como esta, que tem, por exemplo, um coro, uma orquestra e organiza grandes concertos. Às vezes, eu olho para o programa e vejo coisas que não podiam realizar-se em Londres, mas que acontecem aqui”. 

“Os portugueses não têm talento apenas para o futebol”
“Excelentes” é a resposta pronta do maestro titular quando lhe pedimos a sua opinião sobre os músicos portugueses. E Baldur não resiste a ligar, uma vez mais, música e futebol: “Eu diria ao povo português que não tem apenas talento para o futebol, mas também para a música. Nesta orquestra há uma percentagem maior de portugueses do que na equipa do FC Porto. Acho que há um grande talento aqui e gostaria que as pessoas apreciassem isso”. Brönnimann considera que “é uma questão de tempo” até que as pessoas reconheçam o valor dos músicos portugueses, mas acha também que “é preciso ir ter com as pessoas”. “A Casa da Música é fantástica, mas temos que ter a certeza que as pessoas sabem o que se passa cá dentro. Isso é um desafio para nós”, conclui.

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