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Ex-presidente vê riscos para a candidatura de Lula em 2018

A ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, durante um debate realizado no Festival do Filme e Fórum Internacional dos Direitos Humanos (FIFDH) em Genebra, em 11 de março de 2017. Miguel Bueno

Durante encontro realizado no Graduate Institute, universidade de pós-graduação de Genebra, na Suíça, a ex-presidente Dilma Rousseff falou sobre as realizações do seu governo, o processo de impeachment e as expectativas das eleições de 2018, numa discussão que tinha como tema "Os Direitos Civis da América do Sul". 

A ex-presidente participou do Festival de filme e fórum internacional de direitos humanosLink externo, de 10 a 19 de março na cidade suíça.

Começou com um balanço positivo dos últimos 13 anos, mostrando à plateia internacional, composta por correligionários e opositores, alguns números e fatos. Algumas bandeiras, alguns cartazes e manifestações de apoio ou repúdio mostraram um pouco do momento político brasileiro, mas sem agressões. Aplausos, vaias e alguns risos eram as manifestações democráticas num encontro internacional em que a ex-presidente falou em português, com tradução simultânea.

“Criamos uma ideia básica : combater a pobreza, a miséria e a fome em todo o programa de governo”, disse.

A saída do Brasil do mapa mundial da fome, que, segundo a FAO, reduziu a 1,7% a população de subalimentados no Brasil foi um deles. Salientou também o aumento real do salario mínimo de 72% e a taxa de desemprego de 4,6% em 2014.

Oposição ao modelo neoliberal

Ressaltando que foi afastada do governo pelo Senado sem ter sido julgada, a ex-presidente não acredita que o principal motivo do impeachment tenha sido a gravação da conversa entre o senador Romero Juca e Sergio Machado (nomes que preferiu nem citar em seu discurso) em que falaram da necessidade de afastá-la do governo para poderem estancar a sangria da Lava Jato.  “Esse foi um motivo a curto prazo”, explicou. “A razão de médio e longo prazos é o enquadramento econômico, social e geopolítico do Brasil que nós, com outros países da América Latina, mostramos que era possível crescer e distribuir renda.”

Para Dilma Rousseff, sua vitória em novembro de 2014 impediu a instalação de um governo neoliberal, voltado à redução de impostos e às privatizações.

Congelamento e previdência

Ao analisar a realidade atual brasileira, a ex-presidente criticou medidas adotadas pelo governo Michel Temer, especialmente o congelamento de investimentos por 20 anos – medida aprovada pela Proposta de Emenda Constitucional (PEC), defendida pelo atual governo como uma maneira de conter o rombo nas contas públicas e de superar a crise econômica.

“O congelamento por 20 anos significa que os próximos cinco presidentes eleitos não poderão decidir onde e como gastar seu orçamento”, disse.

A reforma da previdência para conter o déficit do INSS – 149,2 bilhões em 2016, cerca de 2,39 do Produto Interno Bruto – foi outro alvo da ex-presidente, afirmando que para chegar à aposentadoria proposta pela reforma uma pessoa teria de começar a trabalhar ainda na infância. “Lugar de jovem é na escola”, disse. De acordo com ela, com a nova proposta de uma aposentadoria depois de 49 anos de contribuição, uma pessoa tem de começar a trabalhar aos 16 anos ou menos.

Crise fiscal

Para ela, a crise brasileira é fiscal apenas, ressaltando que o país tem uma reserva de 380 milhões de dólares, sem dívida e sem problemas com os bancos, que não têm créditos podres. “Tivemos o início de uma crise econômica forte e essa crise levou a uma queda de arrecadação no Brasil”, disse. Lamentou o fato de que a partir da metade de 2015 não teve mais condições parlamentares de governar e que suas medidas não eram aprovadas. “O novo governo ilegítimo não consegue reverter uma situação que eles deixaram aprofundar porque subestimaram a crise econômica e subestimaram a própria crise politica que eles criaram.”

Eleições 2018

A ex-presidente salientou à plateia a importância das eleições em 2018 no quadro político brasileiro, lembrando que o processo já começou.  Ao comentar a liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas de intenção de voto – 38% , seguido de Marina Silva e Jair Bolsonaro – , aventou a possibilidade de  alguns riscos. “Há hoje uma situação bastante indefinida e insegura no Brasil e há um risco imenso de se tentar impedir essa eleição”, disse. Na análise dela, podem acontecer três coisas: o impedimento da candidatura de Lula, caso seja condenado por duas vezes; a tentativa de mudar as regras para um sistema parlamentarista, por exemplo, e até mesmo o adiamento das eleições.

Em sua entrevista à televisão suíça RTSLink externo, Dilma Rousseff salientou que não sairá candidata a nada, mas continuará fazendo política sempre.

Em Genebra

A ex-presidente Dilma Rousseff chegou em Genebra na sexta-feira (10.03) para participar de uma série de eventos, dentre eles o Festival do Filme e Fórum dos Direitos Humanos (FIFDH) e um encontro com Guy Ryder, diretor da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e uma palestra no Instituto Graduado de Estudos Internacionais e do Desenvolvimento sobre o tema “Defendendo os direitos sociais na América do Sul”, na segunda-feira (13.03).

Acompanhada por uma equipe de seis pessoas, dentre eles Marco Aurélio Garcia, ex-assessor especial para assuntos internacionais nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e da própria Dilma Rousseff, a ex-presidente também foi recebida pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e encontrou políticos suíços.

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Televisão suíça entrevista Dilma Rousseff

Este conteúdo foi publicado em Dilma ainda concedeu entrevistaLink externo ao principal jornal da TV suíça francófona (que pode ser assistida no vídeo acima) em horário nobre e aos jornais NZZ e Le TempsLink externo. 

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