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De executivo suíço a produtor de vinho português

Peter Eckert em sua cave na Quinta das Marias, região do Dão Filipa Soares

Peter Eckert sabe que a sua vida dá uma história que as pessoas gostam de ler. A história de um suíço que veio para Portugal administrar uma companhia de seguros helvética e acabou a produzir vinho. Actualmente, ele e a mulher passam 45% do tempo na Quinta das Marias, em Carregal do Sal, e o restante na Suíça, e noutros países.

Autodidacta, Peter aprendeu a fazer vinho, lendo “os livros mais importantes” sobre o tema e, depois, aplicando os conhecimentos na prática. O vitivinicultor conta também com a ajuda de um enólogo, quando necessita de “saber mais coisas”. A fórmula tem funcionado. Os vinhos já receberam várias medalhas.

Foi em 1980, com 35 anos, que Peter Eckert chegou a Portugal para dirigir uma companhia de seguros suíça. “Fiquei oito anos como administrador daquela empresa”, frisa Peter, que durante esse período efectuou entre 60 a 70 mil quilómetros para visitar os agentes. As dezenas de milhares de quilómetros percorridos permitiram-lhe ficar a conhecer “muito bem” o país. O então administrador gostou muito de Portugal, “principalmente das pessoas”.

Em 1988, Eckert foi transferido para a Austrália, onde ficou três anos. Antes de partir, disse “ao delegado de Viseu que queria comprar uma pequena quinta para ter, mais tarde, uma residência em Portugal”. Foi desta forma que encontrou a propriedade que veio a adquirir e a rebaptizar: “Quinta das Marias”, em homenagem à mulher, “parceira nos negócios”, e às filhas, todas Marias

Recuperação e expansão da quinta

Mas não foi só o nome da quinta que mudou. Quando o casal suíço comprou a propriedade, esta resumia-se “a uma casa abandonada e a quatro hectares de terreno abandonado”. Os compradores meteram mãos à obra e recuperaram-na: “Surribámos a terra, plantámos um pouco de vinha. A minha mulher ocupou-se da casa, fez a remodelação e começámos a passar aqui as férias, quando eu ainda trabalhava na seguradora”.

À medida que o tempo foi passando, a quinta foi expandindo-se. Após a compra de vários terrenos, a propriedade tem agora onze hectares, dos quais nove se destinam à vinha. “Ainda vamos plantar alfrocheiro, porque o alfrocheiro vende muitíssimo bem, mas não quero ampliar mais a quinta”.

A Quinta das Marias começou a produzir os primeiros vinhos em 1994, mas sem grande êxito. “Depois, optei por aprender eu a fazer e acabei por fazer bons vinhos em 1998, 1999 e 2000”, sublinha Peter. A qualidade dos vinhos produzidos pelo vitivinicultor tem sido reconhecida com a atribuição de vários prémios, nomeadamente pela Comissão Vitivinícola Regional do Dão.

Filipa Soares

Quinta produz 40 mil garrafas

“Estou a produzir mais ou menos 40 mil garrafas de vinho”, diz Eckert, explicando que o processo é demorado: “Há um tempo de espera bastante longo entre o momento em que plantamos a vinha e aquele em que podemos utilizar a uva para vinhos de qualidade. Demora mais ou menos cinco anos.”

Peter afirma, com orgulho, que o seu vinho branco encruzado se “vende muito bem em Cascais”, onde integra o menu de qualquer bom restaurante, já que “acompanha muito bem peixe e marisco”. Este vinho está a ser exportado para a Noruega, Alemanha, Áustria e Suíça, sendo que neste último país “é muito louvado”, por ser “particular, feito com muito vigor”. O vitivinicultor, que apesar de reformado ainda tem um posto nas administrações de várias empresas, está ainda a negociar para introduzir o vinho no mercado do Canadá.

“Quanto ao tinto, entre 60 a 70% do vinho é exportado para a Suíça, Alemanha, Áustria e outros países, e 30 a 40% estou a vender em Lisboa, também aqui nos restaurantes e nas garrafeiras das grandes cidades”, diz o produtor, que também vende bastante vinho na quinta: “A porta está sempre aberta para receber os clientes.”

Está aberta também para receber os quatro filhos, que residem na Suíça, Inglaterra e Singapura, assim como os amigos, que ajudam nas vindimas: “Quem apanha as uvas são 12 a 14  mulheres daqui da aldeia. Depois, tenho um grupo de suíços, amigos dos negócios ou, de vez em quando, amigos das filhas, que me ajudam a ir buscar as caixas, a trabalhar na mesa de triagem, a limpar tudo e a pisar o vinho nos lagares”. É muito trabalho, mas também “uma festa”, que termina com fados e canções suíças.

Para já, nenhum dos filhos de Peter mostra interesse pela vitivinicultura: “Ainda estão a estudar e não queria obrigar nenhum a pensar nisto”. Mas, na brincadeira, o produtor suíço lá vai dizendo que uma das três filhas “podia casar com um enólogo português e continuar a quinta”.

“A ViniPortugal tem feito um bom trabalho, mas podia fazer ainda mais. Talvez não tenha fundos. Podia fazer mais publicidade e provas”, exemplifica Peter, antes de apontar outro problema dos vinhos portugueses: uma grande proliferação de marcas e regiões.

“A marca Wines of Portugal ainda não é muito conhecida”. O vitivinicultor explica que “cada região está a fazer publicidade de forma independente” e que a ViniPortugal está a tentar promover, primeiro, os vinhos portugueses como um todo e só depois as marcas.

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