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O compositor tem de assumir sua própria estética

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O compositor Renato de Aguiar em sua casa, em Friburgo. Divulgacao

Compor é mais técnica ou mais emoção? Para o compositor de música clássica contemporânea Renato de Aguiar, é tanto técnica quanto inspiração. A técnica se aprende, como ele aprendeu na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, com um professor suíço.

A cidade suíça de Friburgo, para onde veio estudar Musicologia em 1981, estava excepcionalmente muito calma no início de agosto. Era época de férias e tinha-se a impressão que metade da população não estava na cidade. Renato de Aguiar acabara de chegar do Brasil, onde fora convidado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), para falar de sua experiência na matéria. Ele tem 137 composições arquivadas na Biblioteca da Universidade de Friburgo, embora tenha muitas outras ainda não arquivadas, não sabe quantas exatamente.

Música é memória

“As pessoas ficaram interessadas e será formado um grupo de trabalho para tentar manter a memória”. Arquivo é isso, guardar a memória para as próximas gerações.

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Com a memória, Renato já teve uma péssima experiência. Quando estudava na Bahia, a escola exigia que o original das partituras ficassem no arquivo. Anos depois, quando tentou recuperar seus originais, soube que todos os arquivos viraram uma espécie de pasta verde e foram para o lixo. Ou seja, não houve conservação e centenas de partituras foram perdidas, uma perda de memória incalculável.

Os primeiros contatos com a música foram em casa, em Belo Horizonte,  porque a mãe ouvia sonatas de Bethoven e valsas de Straus no tempo da vitrola. Quem tem menos de 50 anos provavelmente não sabe que existia um aparelho que tocava discos de vinil.

Emoção

“Me lembro que um vez, eu era bem pequeno, três ou quatros anos, andava com minha mãe na rua, em Belo Horizonte, e saiu uma música de uma casa que me tocou muito: era “Jesus, alegria dos homens” de J. S. Bach. Meu irmão mais velho estudava violão e eu ficava vendo ele tocar. Quando ele deixava o violão, eu pegava e tentava tocar. Depois eu também estudei violão, que toco até hoje.”

Certa vez, Renato de Aguiar se encontrou com Marco Antônio GuimarãesLink externo (ndr. compositor, arranjador, violoncelista e construtor de instrumentos, fundador do grupo Uakti), que já havia estudado na Escola Música da Universidade Federal da BahiaLink externo. “Ele me deu umas peças para arranjar para o piano e me lembro que trabalhei uma semana direto.”

Marco Antonio falava muito da Escola da Bahia e dos suíços Ernst Widmer e Walter Smetak que ensinavam lá.

“Mas tive de forçar a barra para ir para a Bahia. Minha família queria que eu fosse para a universidade e ter uma formação tradicional”.

Influência de Widmer

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Na Escola da Bahia, de 1977 a 1982, Renato acabou sendo muito influenciado por Ernst WidmeLink externor, com quem estudou composição, mas também conheceu muito bem Walter SmetakLink externo. Conta que Smetak dizia que “a composição é como um filho: você faz e perde o controle”.

Nas aulas com Widmer, “havia muita discussão crítica e uma relação muito horizontal com os alunos”.

Do muito que aprendeu com o professor suíço, havia alguns princípios que Renato nunca esqueceu: tem de ter anticorpos sólidos para assumir a própria estética. A cultura e a cultura musical são muito importantes, mas o ato criador não pode depender de uma teoria musical tradicional preestabelecida.

Para ele, a música é mais perto da poesia. Para compor existe técnica, às vezes a partir de uma melodia, ao piano ou violão.

Também já fez muita música de encomenda para teatro, filme, missa e até para jogo de vídeo. “Não pode se fechar.”

Escrever para crianças

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Um projeto que gostou muito foi quando esteve na Bahia, em 2007 e 2012, no projeto no projeto NeojibaLink externo (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia), quando teve a oportunidade de compor obras de orquestra para crianças em iniciação musical. “Foi muito interessante e esse material também é utilizado em Moçambique”.

Renato ouve de tudo para entender as tendências. Uma coisa que o intriga é o grande sucesso da música sertaneja, dita universitária ou não. “Um desafio para um jovem arranjador seria melhorar essa música e tentar atrair esse público para algo melhor”.

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