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“Dose Certa” tenta diminuir desperdícios em Portugal

Cantina da Escola EB 2/3 Maia Filipa Soares

Cada português deita fora, em média, 98 quilos de alimentos por ano, o que corresponde a 17% do que Portugal produz para consumo humano. Os valores são apontados pelo projecto PERDA, o primeiro estudo nacional sobre desperdícios alimentares, cujas conclusões foram recentemente divulgadas.

Para tentar combater o desperdício e reduzir a produção de resíduos alimentares, através da mudança de hábitos, a Lipor – Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto – criou o projecto “Dose Certa”, uma parceria com a Associação Portuguesa dos Nutricionistas. Em 2007, convidou vários restaurantes do concelho de Espinho a participar, mas apenas um aderiu. 

  

O estabelecimento de Lucílio Tavares Pereira, mais conhecido por Capela, já tinha criado um menu de porções menos generosas e mais económico há alguns meses, quando foi contactado pela Lipor. O projecto “Dose Certa” foi ao encontro daquilo que Tavares Pereira estava a fazer, depois de constatar que parte das meias doses acabava, muitas vezes, no lixo e que os portugueses estavam a perder poder de compra, mas, com a parceria, o restaurante passou a contar com a colaboração de nutricionistas e elementos da Lipor.

Na primeira fase de monitorização, em 2008, foram pesados os restos dos pratos dos clientes, tendo sido divididos em três categorias: hortícolas, hidratos de carbono e proteínas. Desta forma, foi possível avaliar os alimentos que mais sobravam – batatas e arroz – e calcular as quantidades ideais que deviam compor o menu, de forma a reduzir os desperdícios. O potencial de redução conseguido foi de cerca de 77%.   

Projecto alargou-se a outros estabelecimentos

A diminuição das porções de comida foi, de acordo com Tavares Pereira, um bom negócio para o restaurante, mas também para os clientes: “Satisfaz as duas partes. Começámos a ter mais clientes e ainda hoje 90% do que vendemos durante a semana é ‘Menu Dose Certa’”. Armando Madureira é cliente habitual desta fórmula, que inclui prato, sopa, pão, bebida e café. “A comida chega bem. Não há desperdícios e a pessoa fica satisfeita”, assegura, depois de ter comido três postas de pescada com arroz de feijão e legumes.

O “Dose Certa” estendeu-se a outros estabelecimentos, como um restaurante em Matosinhos, a cantina de uma empresa de serviços de restauração e, mais recentemente, a Escola EB 2/3 da Maia. “Em todos os casos, temos verificado uma redução na produção global de resíduos”, garante Maria do Céu Silva, engenheira da Lipor.

No passado dia 13, a Lipor entregou o Certificado de Reconhecimento “Dose Certa” à Escola EB 2/3 da Maia por ter concluído com sucesso a implementação do projecto, que pretende, segundo Maria do Céu, “transmitir boas práticas a nível ambiental e nutricional”. De acordo com os dados fornecidos pela entidade promotora do projecto, o estabelecimento de ensino reduziu o desperdício alimentar em 38%.

Irene Tiago, coordenadora do “Dose Certa” na EB 2/3 da Maia, quer aumentar ainda mais este valor. A professora realça que evitar o desperdício “permite à escola dar, de forma gratuita, alimentação a outros meninos que têm escalão B e que, normalmente, pagariam 50%, e oferecer pão e fruta a meio da tarde”.

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“O grande desperdício”

Este conteúdo foi publicado em Na Suíça existem apenas estimativas de quanto se perde de comida, pois números exatos não existem. Claudio Beretta, assistente de pesquisa na Escola Politécnica de Zurique (ETH, na sigla em alemão), entrevistou 43 empresas do setor alimentício e também utilizou bancos de dados internacionais. Conclusão: como em outros países industrializados, aproximadamente 30% das mercadorias disponíveis…

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Projecto Re-food mata a fome

Em Lisboa, também se combate o desperdício… Matando a fome. “Há toneladas e toneladas de comida excelente que vão para o lixo em todo o mundo. É preciso corrigir isso”. O alerta é de Hunter Halder, que começou a conceber essa correcção em 2010, ainda que a uma pequena escala, na freguesia de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa. A dimensão do projecto tem aumentado e já atinge um quilómetro quadrado, onde mais de 60 estabelecimentos, como restaurantes e supermercados, doam comida que não chegou a ser servida aos clientes e que se encontra em boas condições. Os cerca de 200 voluntários da associação Re-food 4 Good fazem com que, todos os meses, estes alimentos, cerca de seis mil refeições, sejam distribuídos por 300 beneficiários: “São sem-abrigo, desempregados, pessoas com pensões miseráveis…”

O sonho do norte-americano que vive há 21 anos em Lisboa é conseguir, até ao final de 2014, alargar o projecto a todas as freguesias da capital portuguesa. Mais um passo nesse sentido vai ser dado com a abertura de um segundo núcleo, em Telheiras.

A associação Dariacordar, que lançou o movimento Zero Desperdício, conseguiu o apoio da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica para reinterpretar a lei que travava a doação e redistribuição de refeições por alegadas questões sanitárias. Foi criada uma lista de procedimentos e boas práticas para que o projecto de recolher, acondicionar, transportar e entregar refeições pudesse ser feito de forma segura.

No âmbito do projecto Life Miniwaste, a Lipor tem desenvolvido várias iniciativas para tentar reduzir o desperdício alimentar, além do projecto “Dose Certa”. Têm sido organizados cursos de compostagem e de culinária. Na internet é possível fazer o download de informação: receitas, guia de conservação de alimentos e planeamento mensal de refeições.

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