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Francofonia traz o melhor da Suíça a Portugal

Cena de L'enfant d'en haut [Irmã], de Ursula Meier, apresentado na semana da francofonia, em Portugal vega films

Alguns dos melhores artistas que representam a capacidade criadora helvética passaram por Portugal. A Festa da Francofonia 2013 foi o evento que promoveu uma mostra de cultura, unificada pela língua francesa, onde a Suíça se fez representar por uma verdadeira elite de criadores.

Ursula Meier, Gion Capeder e Andreas Fischli foram os artistas que, a convite da Embaixada Suíça, marcaram presença em Portugal.

A realizadora Ursula Meier esteve na antestreia lisboeta do premiado filme “Irmã – Le enfant d’en haut” e participou num debate com o público. Gion Capeder e Andreas Fischli, autores de banda desenhada, estiveram durante dois dias no Liceu Francês Charles Lepierre, em Lisboa, para participar em workshops e desenvolver trabalhos relacionados com o desenho e as línguas oficiais da Suíça.

Numa perspectiva de colocar o público mais jovem em contacto com a cultura suíça, múltiplas iniciativas foram realizadas durante a Festa que aconteceu entre 14 e 23 de Março. Exposições, leituras de contos e projecções do filme “Irmã” aconteceram em várias escolas de algumas cidades portuguesas.

Cinema, teatro, música, exposições e conferências foram algumas das propostas da Festa da Francofonia, que decorreu durante dez dias deste mês em dez cidades portuguesas: Caldas da Rainha, Coimbra, Espinho, Guimarães, Leiria, Lisboa, Porto, Setúbal, Vila Nova de Gaia e Viseu. O evento foi organizado por embaixadas, institutos culturais e outros parceiros, com o intuito de “dar a descobrir ou redescobrir as riquezas culturais do mundo francófono espalhadas pelos cinco continentes”.

Uma história “universal” à conquista do Mundo

“Irmã” é o filme que conquistou o Urso de Prata de Berlim (Prémio Especial do Júri), colocou a Suíça à beira de ganhar um Óscar e agora corre o mundo. Swissinfo.ch aproveitou a presença de Ursula Meier em Portugal para falar com a realizadora.

Do Festival de Cinema de Berlim, a realizadora lembra o momento que mais a marcou: “O que me tocou, realmente, foi receber o Urso das mãos de Mike Leigh [presidente do júri], que é um cineasta que adoro. Todos os outros membros do júri são pessoas por quem tenho uma admiração extraordinária. Acho que foi isso que mais me tocou, mais do que conquistar o Urso. Ser reconhecido por pessoas que admiramos é o que há de melhor.”

Nos Estados Unidos, “Irmã” teve “um acolhimento extraordinário. Representou a Suíça nos Óscares e esteve na short-list, entre os nove primeiros, para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro.” E, paralelamente, foi nomeado para os óscares independentes, Independent Spirit Awards, na categoria de Melhor Filme Internacional. Um acolhimento de sucesso que se traduziu no convite para escrever um projecto para os Estados Unidos.

Sobre a história vivida por Simon, a personagem principal de “Irmã”, que, pré-adolescente, furta objectos numa estância de esqui nos Alpes suíços, para depois os vender e arranjar o dinheiro para poder viver com a irmã, que está no desemprego,  Ursula Meier afirma ser “qualquer coisa de muito universal, onde as pessoas se podem projectar. Quer seja no Brasil, nos Estados Unidos, na Coreia ou na Europa.”

“É um filme ancorado numa realidade social. É uma história de amor entre duas pessoas que se amam, mas não sabem como o dizer. É uma história de amor e família. Porque a família é o último bastião comunitário ao qual as pessoas se podem agarrar; e com a crise que atinge a Europa, ainda mais.”

– 2008: Home, com Isabelle Huppert, Olivier Gourmet, Kacey Mottet Klein

2012: L’enfant d’en haut [Irmã], com Kacey Mottet Klein, Léa Seydoux

Escolas foram ao cinema

Simon, o protagonista do filme “Irmã”, tem doze anos, a idade aproximada de muitos dos alunos que o viram no grande ecrã do Centro Multimeios de Espinho, no Norte de Portugal. Mas a vida dramática da personagem criada por Ursula Meier não pareceu comover os estudantes, pelo menos uma grande parte, que se fartou de rir ou de fazer piadas nalgumas das cenas mais pungentes do filme.

No final, os adolescentes revelaram uma certa dificuldade em comentar a história que tinham acabado de ver. Telmo e Renata, alunos do 8º ano da Escola Secundária Dr. Manuel Gomes de Almeida, consideraram o filme “interessante”, mas será que a longa-metragem os fez reflectir? “Fez-me pensar sobre a má sorte de algumas pessoas, a quem, às vezes, acontecem coisas más”, respondeu Telmo.

Os dois alunos aprendem francês com Carlota Madeira, professora que, em conjunto com a colega Lídia Marques da Escola Dr. Manuel Laranjeira, participou na organização da Semana da Língua Francesa e da Francofonia em Espinho. A projecção de dois filmes – um deles, “Irmã”, oferta da Embaixada da Suíça -, uma exposição com trabalhos dos alunos intitulada “Dis-mois dix mots semés au loin” e uma mesa-redonda sobre “O Francês Hoje” foram os eventos que a cidade acolheu em 2013. Nos anos anteriores, as escolas secundárias espinhenses já tinham celebrado o Dia da Francofonia, com um programa menos alargado. 

Francês “reganha” terreno ao espanhol

 Carlota Madeira considera que iniciativas como esta ajudam o francês “a reganhar algum terreno” ao espanhol, como língua estrangeira no ensino em Portugal. O sistema educativo português oferece a possibilidade de estudar alemão, espanhol, francês e inglês, mas nem todos os estabelecimentos de ensino estão em condições de disponibilizar aos alunos essa oferta.

Numa altura em que a crise gerou uma nova vaga de emigração, o francês passa a ser visto com outros olhos por pais e alunos: “Pode não ser essa a razão primeira que os leva a optar pela língua, mas, neste momento, é de todo o interesse que as pessoas saibam francês, uma vez que este é muito falado nos destinos de emigração”.

Luis Guita, swissinfo.ch

Le 7, o eleito

Le 7 é o título da primeiro livro de banda desenhada de Gion Capeder. Em Le 7, o autor apresenta “o retrato de um adolescente, dos dias de hoje,”  que mora nos arredores de Friburgo. Na história há um divórcio e um acidente, e o protagonista “é obrigado a viver com todo esse peso sobre os ombros,” relata Gion Capeder.

 “Surpreendente” e “fascinante”  são palavras usadas pelos críticos para descrever Le7, que Capeder trouxe até Portugal e usou como ponto de partida para o trabalho que, durante dois dias, desenvolveu com os alunos do Liceu Francês de Lisboa.

No liceu, além da análise do livro, mas tomando este como ponto de partida, os alunos francófonos fizeram um guião para um hipotético filme, enquanto com os alunos de italiano foi realizada a tradução integral da obra.

“Foi todo um trabalho que me mostrou o prazer que tiveram em ler e trabalhar sobre esta banda desenhada. Eles escolheram o meu livro de entre muitos outros que tiveram em mãos, e isso tocou-me. Foi uma escolha que eles fizeram para trabalhar nesta semana da francofonia,” afirma Gion Capeder.

Depois de Le 7, onde Chris Ware é assumido como influência e são feitas referências, embora discretas, a Bruce Nauman,  Gion Capeder, que durante vários anos foi diretor do Festival  Belluard Bollwerk de Friburgo, já trabalha sobre o próximo livro: ”Será um drama psicológico. Aqui falava-se de culpabilidade. Naquele em que estou a trabalhar, falo de um outro tipo de dor psicológica.” 

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