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Caravana “friburguense” leva 320 suíços ao Brasil

Nova Friburgo
Os colonos suíços deviam se lembrar da sua terra distante quando construíram as primeiras casas no vale que depois se tornaria Nova Friburgo. Keystone

Um encontro de dois povos: para comemorar seus trinta anos de existência, a Associação Friburgo-Nova Friburgo organiza uma viagem que levará 320 suíços, incluindo autoridades oficiais, para uma semana de comemorações festivas e culturais no Brasil.

As atividades comemorativas incluem a vinda de jovens brasileiros a Friburgo, a contratação de um “embaixador” cultural e até a organização de um seminário histórico.

Os tempos eram duros. Era necessário ter coragem para a trágica viagem que estava por ocorrer. Até o hino criado não escondia a tristeza nos corações. “Vamos ao Brasil viver felizes e contentes. Abandonemos nossa pátria, nossos amigos, nossos parentes! Façamos à nossa Suíça nossas despedidas sem retorno. Vamos ao Brasil, onde terminaremos nossos dias!”

Estamos falando de 1819. Nesse ano centenas de homens, mulheres e crianças, a maioria camponeses pobres do cantão de Friburgo, partiram em busca de uma vida melhor em terras brasileiras. Quase dois séculos depois, a Associação Friburgo-Nova Friburgo (AFNF) organiza mais uma viagem, porém dessa vez a participação é voluntária. Ao invés de enxadas, máquinas fotográficas estarão na bagagem.

De 16 a 24 de outubro, 320 suíços estarão partindo para Nova Friburgo no encontro organizado pela associação entre os dois povos para comemorar seus trinta anos de atuação. A grande parte dos participantes é de membros de grupos musicais e folclóricos friburguenses como a banda “La Gérinia” ou os músicos e dançarinos dos “Les Coraules”. Até mesmo um verdadeiro grupo carnavalesco irá mostrar ao público tupiniquim como se festeja o folguedo no país dos Alpes: o “Les 3 canards”, que irá se apresentar com seus instrumentos de percussão o ritmo helvético conhecido como “Guggen”.

Primeira vez no Brasil

Além dos artistas e membros de associações culturais, a autodenominada “caravana friburguense” também será composta por uma delegação oficial. “Serão parlamentares, membros do governo cantonal de Friburgo e até o prefeito da cidade”, revela Raphael Fessler, presidente da AFNF, acrescentando que a viagem será uma descoberta para a maioria dos participantes. “Dos 320, só vinte já estiveram no Brasil.”

Para organizar o empreendimento, o advogado praticamente deixou de lado suas atividades profissionais. Dos vários desafios logísticos que precisou resolver, um dos maiores era o transporte. Para levar o grupo, a associação ocupará cinco aviões na viagem de Genebra a Paris e dois grandes Airbus da companhia francesa Air France no trajeto da capital francesa ao Rio de Janeiro.

Além da organização, a preocupação de Fessler é preparar o terreno para os turistas, sobretudo os novatos. “Já organizamos sessões de informações nas diferentes associações culturais, mas em junho vamos reunir todos os participantes para responder a todas as questões”, explica.

O programa dos suíços em Nova Friburgo inclui a realização de um grande desfile na principal avenida da cidade, do qual grupos folclóricos dos dois países devem participar. Também a Casa da Suíça irá organizar uma grande festa. O encontro entre as duas cidades será reforçado pelo acolhimento dado aos suíços. “Os participantes da caravana serão hospedados na casa de habitantes de Nova Friburgo”, revela Fessler.

O presidente da AFNF se alegra com a possibilidade de renovar os quadros da sua associação. “Um terço das pessoas que vão ao Brasil é de jovens. Para nós isso é muito importante, pois assim podemos despertar o interesse comum também nas novas gerações. Eu mesmo só descobri Nova Friburgo através de uma viagem que fiz como jornalista muitos anos atrás.”

Diversas ações

Além da “caravana friburguense”, a AFNF organizou três ações para comemorar seus 30 anos. Uma delas é a participação de dez jovens friburguenses em um intercâmbio de três semanas em Friburgo na Suíça. Com idades entre 14 e 18 anos, eles têm em comum o fato de estudar o idioma de Molière na Aliança Francesa. Uma parte dos custos da viagem foi paga pela associação e a outra pelos pais. A hospedagem é dada por famílias suíças que têm jovens na mesma idade. “Assim os garotos e garotas podem trocar idéias entre si, fazer amizades e até se reencontrar no Brasil já como amigos. Alguns dos garotos suíços também estarão na caravana”, acrescenta Fessler.

O grupo chegou no dia quatro de maio em Friburgo e fica até 26. O programa de passeios inclui visitas à fábrica de chocolates Cailler, encontros com outros escolares, caminhadas na montanha e até mesmo descobertas prosaicas. “Aqui os carros param na frente da faixa de pedestre quando a gente quer atravessar a rua”, conta admirada uma menina de 14 anos. Dos dez participantes, apenas uma já esteve fora do Brasil.

Outra ação da AFNF é o envio de um “embaixador cultural” à Nova Friburgo. “Foram dois anos de preparativos para encontrar o financiamento e a pessoa certa que irá assumir as rédeas da Casa da Suíça em Nova Friburgo”, diz o presidente. O contrato inicial será de quatro anos e o salário será pago pelo cantão de Friburgo, a Loteria da Suíça francesa e, em parte, pela Prefeitura de Nova Friburgo.

O escolhido é o brasileiro Maurício Pinheiro, 42 anos, que, apesar de já viver há mais de seis anos em Berna, nasceu e cresceu em Nova Friburgo. Com sua esposa suíça, o bibliotecário e arquivista com mestrado na França terá a função de desenvolver as relações entre os dois países e também reforçar o programa cultural da instituição. “Como já tínhamos um bom mestre-queijeiro, o Maurício será o nosso novo ‘queijeiro’ cultural”, brinca Fessler.

Seminário histórico em 2010

E se já não tivesse suficientemente trabalho, o ativo presidente da AFNF quer organizar um seminário histórico sobre a migração suíça para o Brasil. O evento, planejado para 2010, deverá ocorrer paralelamente em duas cidades suíças: Friburgo e Solothurn. A explicação está na história. “Muitas das famílias que embarcaram com imigrantes do cantão de Friburgo também vinham desse cantão de língua alemã”, justifica.

Dois estudiosos, um brasileiro e outro suíço, já estão convidados: Henrique Bon, autor de vários trabalhos sobre o tema como o livro “Imigrantes”, um ensaio histórico sobre centenas de famílias helvéticas, e Martin Nicoulin, diretor aposentado da biblioteca cantonal de Friburgo.

Alexander Thoele, swissinfo.ch

Friburgo (em francês: Fribourg; em alemão: Freiburg ou Freiburg im Üechtland)
Línguas oficiais: alemão e francês

Cidade de Friburgo
Área de ocupação: 9,32 km²
População: 36.544 habitantes
Altitude: 610 m (o ponto mais elevado é o Schönberg: 702 metros)

Cantão de Friburgo
Área de ocupação: 1.671 km²
População: 258.252 habitantes
Ponto mais elevado: Vanil Noir com 2.389 metros
Ponto menos elevado: Lago de Neuchâtel

A cidade foi fundada em 1157 por Berchtold IV von Zähringen. O cantão faz parte da Confederação Helvética desde 1481.

Altitude: 846 metros
Ocupa uma área de 935,81 km²
População total: 173.321
Línguas oficiais: português
Principais atividades econômicas: indústria de moda íntima, olericultura, caprinocultura e indústria (têxteis, vestuário, metalúrgicas, etc).

Nova Friburgo foi inicialmente colonizada por 261 famílias suíças entre 1819-1820, totalizando 1.682 imigrantes. O município foi batizado pelos suíços ganhando o nome de “Nova Friburgo” em homenagem à cidade de onde partiram a maioria das famílias suíças – Friburgo, no Cantão de Friburgo.

Nova Friburgo foi a primeira colônia não lusitana a ser fundada no Brasil, tornando-se a verdadeira Suíça Brasileira.

A história de Nova Friburgo teve seu início em 1818, quando Dom João VI autorizou, por decreto, a imigração de 100 famílias suíças provenientes, principalmente, do Cantão de Fribourg e Berne, para a colonização agrícola da Fazenda do Morro Queimado. Do total de 2.006 emigrantes que saíram da Suíça, somente 1.621 chegaram a Nova Friburgo. Devido às condições precárias antes e durante a viagem que agravaram o estado de saúde da população, 385 pessoas morreram no percurso.

Os pequenos proprietários suíços que vieram cultivar a terra com seu próprio trabalho e de suas famílias não alcançaram êxito. Isto deveu-se à falta de apoio; às condições das terras recebidas pelos colonos, onde a grande quantidade de pedras e a densidade da mata limitavam a utilização do solo; e à dificuldade de acesso aos significativos mercados consumidores.

Em função disto, muitos colonos suíços deixaram suas terras em busca de melhores condições de vida na região cafeeira de Cantagalo. Aqueles que permaneceram, sobreviveram produzindo milho, batata, feijão, café, criando animais domésticos e fabricando laticínios (fonte: prefeitura de NF)

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