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EUA ‘esperançosos’ com presença no país do ex-chefe da inteligência da Venezuela

O representante especial de Estados Unidos para Venezuela, Elliott Abrams, após uma coletiva no Departamento de Estado, em 25 de junho de 2019, em Washington afp_tickers

Os Estados Unidos informaram nesta terça-feira (25) que a presença no país do ex-chefe da inteligência da Venezuela alimenta a esperança de uma mudança no governo do país sul-americano.

A chegada nos Estados Unidos do general Christopher Figuera, que fugiu após apoiar uma fracassada tentativa de golpe contra o presidente Nicolás Maduro em abril, foi confirmada por Elliott Abrams, delegado especial do presidente Donald Trump para a crise na Venezuela.

Ao falar com a imprensa, Abrams destacou que Maduro segue vulnerável a outra rebelião militar.

“Não podemos prever o futuro. Só posso dizer que parece que, os temores de Maduro sobre outra revolta não terminaram”, disse.

A Assembleia Nacional venezuelana, controlada pela oposição, debate nesta terça-feira as denúncias de prisões de militares e membros de organismos de segurança por supostas conspirações contra Maduro.

O líder opositor Juan Guaidó denunciou a prisão de cinco militares e dois policiais venezuelanos -incluído um general- por agentes de inteligência, acrescentando que o paradeiro deles é desconhecido.

Figuera, que ajudou a organizar a fracassada tentativa de golpe militar contra Maduro em 30 de abril, disse ao jornal The Washington Post que o presidente pode cair.

“Estou orgulhoso do que fiz”, declarou Figuera em uma entrevista ao jornal Washington Post, concedida na semana passada em Bogotá e publicada na segunda-feira.

Até o momento, o regime está à nossa frente. Mas isto pode mudar rapidamente”, completou.

O militar passou dois meses escondido na Colômbia antes de ir para os Estados Unidos na segunda-feira, de acordo com o Post.

“Não o trouxemos para os Estados Unidos, mas estamos contentes por ele estar aqui”, disse Abrams sobre Figuera, sem revelar seu paradeiro exato, apesar de dizer que não estaria em Washington.

O fato de estar “livre” e “sem nenhum tipo de restrição” após Washington cancelar todas as sanções que havia contra ele é “um sinal para outros funcionários (de Maduro) sobre o futuro que poderão ter se fizerem o mesmo”, declarou Abrams.

Figuera “tem muito a dizer” sobre a situação na Venezuela e seus comentários podem contribuir para que outros reavaliem seu apoio a Maduro, acrescentou.

– Ouro, Hezbollah e Cuba –

Cristopher Figuera, que foi chefe de segurança do falecido presidente venezuelano Hugo Chávez, mentor de Maduro, denunciou graves atos de corrupção.

Ele citou negócios ilícitos no comércio de ouro com a participação de um assistente de Nicolás Maduro Guerra, filho do presidente, e casos de lavagem de dinheiro vinculados ao ex-vice-presidente Tareck El Aissami, atual ministro da Indústria e acusado de narcotráfico nos Estados Unidos.

Também afirmou que células do Hezbollah operam em vários pontos da Venezuela e revelou uma forte influência cubana no palácio presidencial em Caracas, com ligações constantes do ex-presidente de Cuba Raúl Castro para Maduro.

“Percebi que Maduro é o líder de uma quadrilha, com a própria família envolvida”, disse o homem que é chamado de “espião” da CIA por Maduro.

O Post acrescentou que as declarações de Figuera não puderam ser comprovadas de maneira independente.

Figuera, que foi recrutado pela oposição, também contou que o plano de golpe fracassou quando desistiram de participar o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, e o chefe do Supremo Tribunal e Justiça, Maikel Moreno, que teria pedido 100 milhões de dólares para se unir ao complô, segundo afirmou ao Post.

Abrams negou taxativamente qualquer contribuição de Washington.

– Bachelet e eleições livres –

Abrams também destacou que Washington espera que o relatório a ser apresentado no dia 5 de julho pela Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que visitou a Venezuela na semana passada, “revele as brutalidades do regime” e convoque eleições livres “como parte central da solução para a crise venezuelana”.

Os Estados Unidos lideram desde janeiro a pressão internacional para derrubar Maduro, cujo governo consideram uma ditadura e a quem responsabilizam pela crise social e econômica do país. Também apoiam os esforços de Guaidó, autoproclamado presidente interino e reconhecido no cargo por Washington, para organizar novas eleições.

Consultado sobre a possibilidade de uma intervenção militar para forçar a queda de Maduro, Abrams respondeu que não está descartada, mas que “uma solução negociada seria o melhor”.

Contudo, Abrams considerou “risível” a ideia de manter Maduro no poder durante uma transição democrática. “A barreira para a mudança segue sendo recusa de Maduro de se afastar”, disse.

O reaparecimento de Figuera foi divulgado no mesmo dia que o ex-comandante da polícia venezuelana Iván Simonovis, que cumpria uma pena de 30 anos por dois assassinatos cometidos durante um golpe de Estado contra Chávez em 2002, anunciou sua liberdade no Twitter, ao lado de fotos na capital americana.

Simonovis, que deixou em 16 de maio a prisão domiciliar após 15 anos detenção, se reuniu nesta terça-feira com legisladores americanos para descrever “a violação dos direitos fundamentais contra a oposição na Venezuela”, informaram representantes de Guaidó em Washington.

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